domingo, 10 de abril de 2022

Veganismo e crise financeira do capitalismo

Eu tenho prestado muito atenção em alguns discursos onde se comenta sobre o aumento dos preço dos produtos de origem animal e apresenta-se o veganismo como uma opção mais barata. Acho muito perigoso relacionar veganismo com inflação e poder de compra. Li um dia uma matéria falando sobre a planta Ora-pro-nobis, e o título dizia "a carne de pobre" devido ao seu baixo custo e superioridade em nutrientes quando comparada á carne animal. Ao meu ver (isso que dizer que estou super aberto a escutar outros pontos de vista), esse discurso de relacionar veganismo com poder de compra é exatamente o lugar que o capitalismo muito inteligentemente, quer levar o veganismo, uma forma de se apropriar dele e colocá-lo em um lugar de classe, onde quem não pode consome produtos de origem vegetal e quem tem condições continua consumindo produtos derivado de animais, resolvendo assim de uma forma bem classicista o problema insustentável que é a maneira como nos alimentamos hoje. Isso é elitizar a alimentação (que já é muito elitaizada) e até camuflar o verdadeiro significado do veganismo, onde a economia de um país, região e do mundo está em terceiro, ou até quarto plano. Veganismo é sobre liberação animal, anti-especismo, e o perigo de discursar sobre "estamos passando por uma crise, e se tornar vegano te ajudaria financeiramente" deve ser muito, mas muito bem estruturado, se não vamos fazer nada mais que elitizar ainda mais a alimentação, apagar o real significado do movimento e não vamos acabar com o holocausto animal, afinal uma parcela da sociedade continuará consumindo animais. Precisamos de uma revolução alimentar, que liberte os animais humanos e não humanos das coisas que estão/estamos condicionados há séculos, e ela deve começar com discursos que podem/devem ir de igualdade de seres, de fator ambiental, pasando até pelo debate de saúde individual, mas relacionar com economia precisa ser mais uma vez muito bem pensado e estruturado. A grande maioria das pessoas compram o que lhes é oferecido nas prateleiras (e oferecido lê-se : o que está ao alcance financeiro, o que há disponível na região, o que é doutrinado como um alimento a ser utilizado e consumido), nós não consumimos o que queremos de verdade consumir, com "nós" incluo nós veganos. Nós consumimos o que nos é condicionado, financeira, regional e culturalmente, e nossos discursos precisam começar a atingir essa base, mudar essa realidade que não está relacionada com a crise econômica do meu país, ou região. 
Share:

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A quem talvez quiser vir

A quem talvez quiser vir

Há mais de 3 anos e um atlântico de distância do lugar e das pessoas onde eu cresci, eu coloquei uma imposição nessa minha nova vida no velho mundo. Todas as pessoas que mais amo e me amam de volta, todas as pessoas que viveram a grande maioria da minha história, essas pessoas só estão acessíveis hoje em dia através da tela do meu celular, o mesmo que estou usando para escrever essa reflexão que gosto de chamar de texto. E essa tela é dura, é fria, muitas vezes carece de sentimento e sempre é insuficiente, mas é essa tela que me conecta a todas essas pessoas, e faz uma ponte oceânica entre minhas histórias passadas e as presentes. Eu agradeço à essa tela, eu usufruo dessa tela, e muito mais do que eu gostaria, muito mais do que depois de mais de 3 anos esteja sendo saudável para mim. E mesmo que em momentos eu me canse dessa polaridade e me afaste um pouco dela (e em contrapartida dessas pessoas) ela é importante e necessária. E partindo dessa realidade foi que eu decidi (mais no gerúndio para ser sincero) impor essa regra da qual vou falar. Eu não vou/posso aceitar mais relações virtuais na minha vida, eu já felicito o aniversário, a formatura 😥 e o feliz Natal, tudo virtualmente. Eu já escrevo demasiadamente elogios embaixo de fotos maravilhosas nas redes sociais dessas minhas pessoas do outro lado do oceano. Eu já peço e dou conselhos demais através das vídeo chamadas, já choro e dou risada escutando áudios, então eu não quero, eu não posso ter mais disso na minha vida, porque eu já estou com mais que o suficiente desse tipo de interação. Eu quero desejar feliz aniversário com um abraço, eu quero virar a meia noite do dia 24 partilhando um jantar maravilhoso, quero encontrar alguém na rua e ver o quão bela essa pessoa está e dizer isso olhando nos olhos dela. Quero rir e chorar com alguém sentado em um banco em um parque, quero ver e ser visto com aquela feição cabisbaixa (que todos em algum momentos temos) e ouvir e receber conselhos segurando a mão. Eu não consigo mais me permitir criar mais relações que sejam mais virtuais que factuais, é preciso equilibrar essa balança. Eu sei que a vida é corrida, e que as vidas de aqui já tem seus próprios alicerces, como os meus que ficaram no Brasil, mas para equilibrar essa balança e ter possibilidades de construir meus próprios alicerces desse lado de cá, acredito que eu preciso ser preciso e categórico. Então a quem talvez quiser vir, venha offline... 

Share:

terça-feira, 8 de junho de 2021

Mundos paralelos

Eu particularmente nunca deixei que o mundo virtual pesasse mais que o mundo factual, estando exposto a Internet desde os meus 15 anos (já há quase mateda da minha vida enquanto estou escrevendo esse texto), eu tive o privilégio de perceber desde muito cedo esse balanço que deve ser feito entre as duas coisas. Eu acho que temos que saber como usufruir do advento da Internet, pois oq fazemos hoje é focar em coisas que não são tão saudáveis, além de não saber usar essa ferramenta para o nosso bem. Porém isso não é uma característica unicamente da Internet, eu acredito que isso seja algo mais socialmente implementado, e faríamos é até fazemos com outras ferramentas e interações como por exemplo quando estamos em um grupo de amigos que não nos fazem tão bem, por algum motivo além do que deveria ser de que nos faça bem, como por exemplo para sentir-se parte de algo. Eu nunca deixei de sair com alguém que eu gostaria de estar junto para ver um filme, mas já sugeri para vermos juntos quando as duas atividades me interessavam, nunca deixei de fazer algum esporte ou atividade que eu gosto para scrollar um feed, mas já scrollei feeds por quase uma hora buscando informações sobre natação pro exemplo, quando decidir começar a fazer há 5 meses atrás. Eu acredito que podemos e devemos utilizar essa ferramenta para um crescimento (principalmente pessoal, sem cair naquela falácia do sistema de utilizar somente ou principalmente para estudo ou trabalho, pois assim reduzimos algo que pode ser e é transformador para algo que nos induz a estar preparado para servir um sistema onde temos que ser seres produtivos sim ou sim). Eu assisto filme, série, documentário, vídeos de youtubers, e até vídeos mais aleatórios possíveis. Mas assisto essas coisas que me fazem rir, refletir, aprender, espairecer, conhecer, distrair, divertir, me inspirar e o mais importante, eu utilizo a Internet para acessar algo que sem ela eu não teria alcance, para despertar todos esses importantes sentimentos que descrevi acima. E há pouco mais de 7 anos, a Internet virou uma porta ainda maior para mim se tratando das minhas relações pessoais e minha interação com elas por exemplo, pois saí da casa da minha mãe para morar sozinho, e através da Internet eu consigo estar "presente" falando com ela exatamente todos os dias desde então, ouvindo e contando sobre nossos dias, pedindo e dando concelhos, perguntando como se cozinha algo, falando sobre assuntos familiares ou qual remédio tomar para determinada coisa, e se não fosse a Internet dificilmente nossa relação se manteria assim próxima, visto que quando eu sai da casa dela eu fui morar em uma cidade há 15 horas de distância, e nos últimos 3 anos me mudei para aqui do outro lado do oceano. Então, o que eu quero dizer é que precisamos sim fazer essa reflexão, e fazendo-a não tratar a Internet e suas possibilidades de conexões como algo a ser regrado, e sim como uma possibilidade de interação e extensão das relações já existentes. Eu não sei se gosto de caracterizar o mundo virtual da Internet como antônimo de mundo real, pois a Internet ela é bem real, e se utilizada com sabedoria ela pode transformar não só seu dia, mas sua vida e até a sociedade onde vc vive. Façamos sim essa reflexão, mas encontremos o equilíbrio da interação que pode existir entre as duas realidades. 
Share:

quarta-feira, 11 de março de 2020

História Única.

Um dia conversava com um amigo sobre a história de seu país e de sua cultura, e em determinado momento comecei a me sentir um pouco constrangido por não saber algumas coisas, alguns detalhes e acontecimentos que eu me lembrava que eu já havia escutado na escola. Mas mesmo assim o disse: "nós estudamos sim história europeia, mas eu acredito que deveríamos estudar a história de uma forma mais abrangente, mais plural. A história do mundo todo". E ele, direto como sua cultura o permite, me disse: "Mas a história da (e disse o nome do seu país) é a história do mundo, nossa sociedade é o berço da civilização". E eu comecei a refletir: "história do mundo? Que mundo? Berço da civilização? Que civilização?" E indo mais fundo nessa reflexão acredito que eu não deveria me sentir constrangido por não saber fatos históricos da região onde estou vivendo hoje. Eu, de acordo com minha ideologia, devo prioritariamente saber/procurar a história da minha cultura, da minha região, pois saber da nossa história nos torna um povo mais forte.
O que eu quero dizer é que nos é vendida uma história única, um berço de onde supostamente todas as civilizações vieram. Quando acredito que isso não seja real. Afinal quanto será que uma revolução ou uma ditadura em um país europeu influenciou em um vilarejo na China? Ou em alguma ilha no pacifico? Ou em alguma tribo na amazônia? Colocar história europeia como história única é apagar tantas outras culturas, tantas outras histórias que tem outros costumes, outras ideologias, outras crenças e principalmente outras cores. É dar o protagonismo unica e exclusivamente a uma pequena parcela do globo e os declarar razão e inicio de um mundo que é tão plural. Há tempos me questiono porque nós 'Brasil' que somos majoritariamente negros não sabemos nada, ou quase nada sobre as diversas culturas do continente que mais nos representa etnicamente? Porque nada ou pouco sabemos sobre os povos originários antes da colonização? Porque quando me lembro da aula de literatura que eu tinha há cerca de 13 anos atrás só falava-se em literaturas europeias? Porque só conheço nomes de filósofos europeus? Não haviam filósofos na América Latina antes da colonização? Ou tudo isso foi apagado pelos jesuítas em suas missões?
Longe de mim encorajar a não pluralidade, saber de histórias e culturas diferentes da nossa, é maravilhoso, é engrandecedor, mas não existe UMA história do mundo, UM berço da civilização, existem diversas civilizações em diversos momentos da história, e existe também o interesse em apagar essa pluralidade, para deixar que um único povo, uma única região, uma única cultura, ideologia e crença seja tida como a natural, a originária.
Share:

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

As histórias por trás da minha asa

Hoje participei da minha Wing Ceremony, ou traduzido para o idioma da minha tão longínqua terra: Cerimônia da Asa. E há pouco menos de 3 horas após receber minha asa, eu não conseguia me inquietar até poder vir aqui para AGRADECER. Quero agradecer aos céus, á vida, e as (muitas) pessoas. Fazem cerca de 9 anos que eu comecei a minha jornada para chegar nesse momento aqui. Entre um ano juntando dinheiro para fazer um curso que nunca foi acessível para mim e minha família, mais um ano entre cursos, exames médicos, estudos, provas, viagens e depois trabalhos estrategicamente voltados a experiencias na área, de mudanças, mais trabalhos, mais mudanças, e também de pessoas antes, durante e depois de tudo isso. Eu finalmente ganhei minha asa (pelo menos é o que foi dito na cerimônia). Pensando bem ganhei não! Eu acho que posso dizer que conquistei. E não conquistei sozinho. Como já dito ali em cima, o propósito desse texto é agradecer. E eu não vou conseguir citar todes que merecem no mínimo um obrigado meu, pois foram cerca de 9 anos e 8,195.71 km de distância percorridos do inicio da minha jornada até onde estou hoje.
Mas quero começar agradecendo a peça mais fundamental disso tudo, a pessoa que sem ela nem sendo escrito isso aqui estaria, nem asa seria sonhada, nem se quer 1 quilometro seria percorrido, nem sequer um plano, objetivo, meta seria traçada e alcançada. Quero agradecer a minha mãe por não sei nem dizer o que. Pois agradecer por tudo, pela minha vida, pela minha educação, pelo exemplo, parece tão pouco e singelo perto de tudo que eu sinto vontade de agradecer. Eu não sei mãe como te agradecer, em nenhum dos idiomas que eu gosto tanto de interagir com as pessoas mundo a fora. Mas cada palavra, cada virgula, cada ponto desse texto tem você como inicio. E estendendo tudo isso, quero agradecer aos meus irmãos, que de diversas maneiras, em diversos momentos foram meu alicerce, alguns muito antes de tudo isso sequer ser sonhado por mim. A minha irmã mais velha que me cuidou tanto ao ponto de ser chamada de minha mãe, a minha outra irmã um pouquinho mais velha que é a pessoa que eu me sinto mais conectado em todo o planeta, e em diversos momentos de diversas maneiras sempre me fez sentir amado de uma maneira única e que eu só sinto com ela. Agradeço também a minha irmã mais nova, que sempre tive uma conexão impecável, e que ao falar dela chego a me sentir da mesma maneira que me sinto quando tento falar da minha mãe, palavras ficam tão pequenas e obsoletas perto da grandeza dos sentimentos, mas foi e é com ela, que eu aprendo mais e cada dia mais, que eu ensino e enquanto ensino sou ensinado, é com ela que rio, que choro, que luto, e principalmente me orgulho (falar nisso eu aposto com qualquer um que ela irá comentar aqui o quanto se orgulha de mim, pois é isso que ela comenta pra dizer que leu todos os meus textões hahaha), quero agradecer a minha outra irmã mais nova, que se podemos dizer que o tempo só melhora as coisas, minha conexão com ela é exemplo disso, cada dia que passa eu me sinto mais orgulhoso, feliz, amado e agraciado por poder chamá-la de irmã. E também quero agradecer meu irmão (sim, somos muitos para quem não sabe haha), pois há alguns dias atrás, após eu ter recebido a noticia de que havia sido aprovado na etapa final desse treinamento que acabo de finalizar, enquanto eu não consegui conter minhas lágrimas de felicidade, eu não pude deixar de lembrar e agradecer por ter sido ele quem me apresentou a essa profissão que eu não me enxergo sem, e que me trouxe já tão longe. Foi ele que acendeu essa lampada na minha cabeça, e me ajudou a tomar a decisão mais importante da minha vida ao escolher essa profissão. Preciso agradecer também tantos amigues que tive o prazer de fazer nessa jornada, amigos que conheci bem no inicio, e que depois desses quase 9 anos ainda permanecem vivos e presentes no meu dia-a-dia, mesmo que eu esteja nesse momento em Porto e ele Buenos Aires, me sinto apoiado em toda e qualquer situação, e só quem tem pessoas que te apoiam sabe o quão isso é importante. Quero agradecer também amigos que conheci antes disso tudo, amizades que se perdem nas palavras, que tem tanta história (lê-se experiência) que por isso se tornam mais valiosas que qualquer coisa nesse planeta, pq dinheiro nenhum compra aquele ombro amigo quando ligamos após termos finalmente externalizado nossa sexualidade passando assim por uma das barras mais pesadas já enfrentadas, e do outro lado da linha ouvimos palavras que confortam mais que qualquer outra coisa. Bolsa de valores nenhuma pode dizer quanto custa conselhos dados nas ligações de sempre no mínimo duas horas, e contabilista nenhum consegue dar preço para uma semana perfeita ao lado de alguém tão especial em uma cidade pacata no extremo sul do Brasil. Tudo isso nos molda de uma maneira, que não há como não reconhecer o quão somos privilegiados por ter convívios assim. Agradeço também coisas que talvez de tão rápidas passassem despercebidas, mas agradeço a (minha) família que há quase exatos 7 anos me recebeu em sua casa em Curitiba com todo o apoio possível, enquanto eu encerrava/iniciava mais um ciclo dessa minha jornada. Agradeço a outras famílias tão importantes também que não só me ajudaram mas ajudaram minha mãe, como a da minha eterna amiga que eu gostava de chamar de prima e adorava brincar de Big Brother na nossa infância, e lembro que adorava ir visitar sua mãe (que é mais que minha amiga) no último andar do prédio, pois havia duas coisas me fascinavam, admirar o mundo do alto e nossas conversas sempre e até hoje maravilhosas. Agradeço também a uma amiga que gosto de chamar de louca, mas esse louca tem um significado pra mim que é totalmente diferente do que significa para o resto do mundo, com ela já ri, já chorei, já fiquei tempos sem falar, e quando voltamos parecia que não tinha passado sequer um dia, com ela também já fui na sua terra natal no maravilhoso estado de Minas Gerais. Ainda agradecendo minhas tão importante amizades, não posso deixar de agradecer a de um dos meus melhores amigos, que passou por tantas coisas junto de mim, ouviu tanta coisa de mim e vivenciou ainda mais, aquele amigo que eu adorava e passava facilmente horas dançando nossas músicas preferidas das cantoras pop internacionais, amigo que assistíamos incansavelmente qualquer um dos dois filmes d'As Panteras e riamos como se fosse a primeira vez. Um amigo que é parte essencial da minha jornada, que eu tenho um carinho enorme e que eu gostaria do fundo do meu coração que estivesse mais próximo de mim socialmente falando.
Tenho que agradecer também os trabalhos que tive nesse meio tempo, e as pessoas que me moldaram profissionalmente, aquelas muito importante que convivi trabalhando na fabrica de meias, e que de várias maneiras me ajudaram/incentivaram para que eu subisse no que foi o primeiro degrau dessa minha jornada, enquanto eu ainda estava me preparando financeiramente, nossas risadas, nossas reuniões regadas de churrasco, comida, música, fotos e muita diversão nunca serão esquecidas. Falo também da minha mais engrandecedora experiência profissional até agora: em CGH. Quanta gente do bem, quanta gente inspiradora, quanta história de vida magnifica a se espelhar e a agradecer por ter o privilegio de ter cruzado. Quanto exemplo profissional, como o da melhor supervisora que já tive o privilegio de ter em toda minha vida, não vou entrar muito no mérito da nossa amizade pq pra eu chamá-la de amiga por si só já é preciso ser algo grandioso, vou falar sobre quanta coisa que ela me passou, que de tão valiosa ontem (anos depois) na ultima aula que tive sobre segurança na aviação, seus ensinamentos e exemplos ainda faziam raízes. Profissionalmente falando não há influência maior que ela em mim. Mas oq não faltou foram influências, de outras supervisoras tão maravilhosas quanto, seja do turno da tarde (como chamávamos haha), seja da base de BSB. E também colegas de trabalho, os que me alegrei em vê-los serem promovidos, os que dividimos muito embarque encerrado e contingência , os que riamos nos portões de embarque, no DO, na loja e no check-in, e aqueles especiais que adorávamos fazer passar vergonha, fosse no ônibus pra casa, em um restaurante vegano onde eu o arrastava (coitado haha) e até nas situações inusitadas em que eu o ligava de surpresa dizendo para abrir o portão da sua casa pois eu estava lá embaixo esperando para entrar. Tive o apoio dos mais diversos amigos, os que conheci através de outras pessoas e tive o privilegio de ser um crush, ou que tive algo que acabou mas que deu certo. Mas falando em apoio não tem como não agradecer mais uma família, a família que antes era do meu pai, mas depois do privilegio que foi ter sido ajudado, amparado, adotado passou a ser minha. Tia e primas, tão diferentes mas tão iguais enquanto me ajudavam, me apoiavam, me amavam, me INSPIRAVAM. Seja ajudando a preparar as melhores festas que eu já fui, seja nos finais de ano, seja durante alguns dias na Suécia, a palavra apoio na minha vida tem um significado diferente antes e depois de vocês, então OBRIGADO.
Como pode-se perceber por esse (já longo) texto eu já fui ajudado de diversas maneiras, e também posso dizer em diversos lugares. Fui ajudado até depois de ter atravessado um oceano. Fui ajudado com um amigo que dividiu comigo seu teto, e fui ajudado com um amigo que dividiu comigo sua vida influenciado por um boné do Pokémon. Sono grato a loro. Fui ajudado em terras onde eu sequer imaginava que pisaria, terras que dizem que falamos o mesmo idioma (e falamos), mas é aí que as tão difíceis diferenças começam. Mas o que (de muito sortudo que sou) não muda é a ajuda e apoio que eu recebo. Da família da minha família, que eu sinto mas não digo que considero também minha família, desse um ano de dedicação e apoio, de compartilhamento de tudo. Ahh como eu agradeço. Dou também um muito obrigado aos amigos que me deram e dão suporte nessa fase de transição que foi aqui, que por passarem ou terem passado por histórias parecidas, senão iguais, decidiram me apoiar nas suas maneiras mais sinceras, especiais e valiosas. Amigos que me acolheram nesses 2 últimos finais de ano, quando eu estava longe demais para ser acolhido por quem sempre me acolheu. Eu lhes agradeço. E como esse texto foi saindo de dentro de mim como uma linha do tempo, estou chegando nos tempos atuais, e mesmo que possa parecer cedo para agradecer alguém "de agora" eu agradeço a amizades que eu fiz nesse ultimo semestre. Amizades que me inspiraram, que me acompanharam, que me distraíram, advertiram e divertiram. Desde a que se iguala comigo no grau de loucura, até a outra que se pasma a presenciar do que sou capaz ("Ooohh Paulo", repete sempre ela), chegaram agora mas já ocupam um lugar tão especial na minha vida. Chegando mais próximo do dia de hoje, preciso agradecer aos momentos de felicidade e união que convivi com os 1216. A sabendo que isso é o fechamento de um ciclo e inicio de outro, deixei para o finalzinho meu muito obrigado a duas pessoas especiais que já estão comigo há algum tempo, mas sinto que nesse novo ciclo meu, seguiremos tão unidos quanto nunca. Primeiro meu muito obrigado ao meu amigo que é uma inspiração pela sua forma de viver, pela sua coragem, pela sua esperteza, e capacidade de construir sucesso onde quase ninguém consegue ver, ele que esteve comigo em São Paulo, na Itália, e graças a Deus não esteve em Portugal, pq ele merece mesmo é Londres hahha. E também agradecer a minha amiga, irmã, mãe (que eu sei que ela não gosta muito que eu a chame assim hahah), mas eu a gosto de compará-la assim pq ela sempre teve um carinho por mim tão grande, que eu só tinha visto um sentimento assim vindo pra mim através da minha própria mãe. Apesar de estarmos hoje muito mais perto fisicamente do que estávamos há 3 meses atrás, eu ainda não pude a abraçar, e esse abraço está fazendo tanta falta. Mas como disse, oq me conforta é sentir e por isso saber, que logo, logo estaremos juntos nesse novo ciclo, que não será só meu, será dela também. Muito obrigado.
Minha asa que recebi hoje só é capaz de voar por toda essa gente que me trouxe até aqui. MUITO OBRIGADO por mudarem e moldarem a minha história.

Share:

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Unificação do trabalhador e individuo

Estou morando na Europa há pouco menos de 2 anos, e uma coisa que me surpreendeu e me custa adaptar é: a relação entre trabalhador e sistema trabalhista.

Minha concepção vindo de onde vim, e conhecido o que conheci, me trás uma percepção daqui, de uma relação entre empregador e trabalhador tão fragmentada, pra não dizer inexistente, que faz com que a linha entre individuo e trabalhador seja tão tênue, para não dizer inexistente.

Aqui existe um discurso grande de liberdade e flexibilidade que é vendido, e mascarado como bom, recompensador, satisfatório e até parte de algo maior. Adicionando isso á: cidadãos de uma economia de primeiro mundo (sem esquecer: exploradora de 'outros mundos'), que possuindo esse sistema de primeiro mundo, não perde muito em deixar existir a essa classe trabalhadora uma certa facilidade de acesso a lazer (lê-se: viagens, esportes, tecnologias etc), pois nessa realidade de primeiro mundo isso não custa tanto a esse sistema. Esse discurso muito bem feito junto dessa realidade (minima) permitida, faz com que seja mais fácil para nós trabalhadores acreditarmos e aceitarmos, essa situação.

Aí vem a romantização da perda da sua individualidade, do seu tempo livre. Pois estamos cada vez mais permitindo o desmonte das nossas duas identidades: enquanto trabalhador e enquanto individuo. Onde aqui no primeiro mundo, mais "avançado" que o Brasil por exemplo, que nesse caso esse avanço não significa algo positivo, a divisão entre essas duas identidades, privadas e profissionais já está quase inexistente. Nós trabalhadores aqui somos induzidos, somos doutrinados de que a nossa identidade é uma, que não existe separação. Então trabalhar fora do tempo de trabalho, tempo de trabalho esse que aqui já se confunde com seu tempo de vida, estar disponível a todo o momento, em qualquer lugar que seja, que costuma ser chamado por esse sistema de: liberdade e flexibilidade no trabalho, ajuda com que sejamos cada vez mais acostumados a trabalhar ininterruptivelmente: trabalhar sem parar, ou o máximo que pudermos. Quando a separação dessas duas esferas: privadas e profissionais nunca deveria existir, pois é justamente essa separação que garante a nossa sanidade. Eu acredito que em algumas décadas, ficará muito perceptível o momento ao qual estamos vivendo agora, momento de transição para essa perda total de direitos trabalhistas e condições saudáveis do mesmo, nessa relação semi-intermitente que hoje temos com o trabalho. Relação essa que desmerece e desencoraja a reflexão: quem sou eu enquanto trabalhador e quem sou eu enquanto individuo? Aliada também de tantos mecanismos que ajudam a moldar a nossa aceitação dessa realidade, como taxa de desemprego alta, ora acesso a uma vida estável, ora intensa crise, deixando mais difícil para nós podermos escolher entre empregos com direitos e respeito a individualidade garantidos, ou um sub-emprego, com uma sub-gestão humana, com um sub-direitos.

Estamos caminhando, isso ainda no "atrasado" Brasil, porque aqui no primeiro mundo isso já se foi, a perdermos a nossa carteira de trabalho e nos transformarmos em uma microempresa vendendo o nosso tempo (vida), nossa inteligência e talento, nossa juventude, e a nossa força que provem dessa juventude, á uma empresa muito maior.

E precisamos estar atentos para não construir na nossa liberdade uma nova prisão.
Share:

terça-feira, 28 de maio de 2019

É a escalada

Hoje é uma data especial, pois há exatamente alguns anos, próximo mesmo desse horário, eu estava embarcando para O MAIS DIFÍCIL, MAIS ENGRANDECEDOR E MELHOR DESAFIO DA MINHA. Eu estava deixando meu país de origem. Nunca tinha saído sequer do meu país, nunca tinha saído de perto da família, da casa e segurança das tantas mães que eu tive durante essa minha mais ou menos pequena trajetória. Mas enfim aconteceu. Depois de quase 3 anos me preparando, física, financeira e psicologicamente, aqui eu descobri que não tem como estar preparado pra tudo, tampouco para todos. Eu sabia que iria chorar, mas não sabia ao certo quais seriam os motivos, eu sabia que iria passar por dificuldade, mas não imaginava muito bem quão complexas elas poderiam ser. Eu saberia que sentiria saudade, mas não tinha noção do quanto isso faria uma diferença no meu ser. Eu imaginei muita coisa, me coloquei em todas e várias situações que eu pude imaginar. Mas imaginar-se é uma coisa, viver tudo isso é outra totalmente diferente. Eu enfrentei dificuldades já conhecidas, já esperadas e outras jamais pensadas. E modéstia parte, acho que estou conseguindo passar por todas elas. Talvez não com a velocidade que eu em alguns momentos sinta vontade, mas eu as estou passando.
Conheci gente boa, conheci gente nem tão boa assim (mas acredito que isso também é muito momentâneo, e resultado dos NÃO acontecimentos nossos), fiz amizades, briguei, me envolvi, aprendi, ensinei, me mudei, a vida mudou, tive dúvida, medo, raiva, mais dúvidas, insegurança causada pelas dúvidas, tive dívidas (rsrs), mais um pouco de dúvidas. E tive mão, mão amiga. Nossa! Como sou privilegiado! A um oceano de distância a vida ainda me presenteia com tantas pessoas que me ajudaram por esse pequeno caminho aqui já feito. Se não fosse por essa gente, talvez eu estivesse na cidade onde eu estava quando comecei a construir tudo isso. Eu tenho também muitas coisas a reclamar, muitas criticas, como disse vim preparado, mas muita coisa veio de surpresa. E a palavra desse ano em forma de ciclo foi ADAPTAÇÃO. Não é fácil, e eu sinto que nesse 1 ano eu ainda não consegui, mas também sinto que um amigo meu que está aqui há 3 vezes mais que eu também não conseguiu. Então, oq significa adaptar-se? Qual tarefa você tem que cumprir pra poder dizer: "eu estou adaptado"? Será que precisamos ter o mesmo nível profissional que tínhamos quando viemos embora? Ou só a equivalência do salário vale? Será que temos que ter um circulo de amigos tão numerosos quanto? Será que devemos saber de cor quando terá feriado, e oq esse feriado significa? Será que devemos saber falar a língua, as expressões? Será que devemos não sentir mais saudade? Será que adaptar-se significa ou pode significar esquecer ou apagar um pouco quem você é, e fazer de tudo para se sentir parte de algo? Enfim, será que existe esse negócio de se adaptar? Eu não sei, e nem me interessa muito saber nesse momento.
Eu vim atrás de um sonho, uma realização que pode mudar a minha vida e da minha família, um sonho que há uns 5 anos eu persigo, e ainda não consegui. E aí você pode pensar (eu tbm já pensei muito) "putz 5 anos correndo atrás de um objetivo que eu sequer consegui?!? Focaria em outra coisa, mudaria o plano, aceitaria e abriria os olhos para outros caminhos, reconheceria que eu não consegui" - Eu já ouvi isso algumas vezes de terceiros e de mim mesmo. Mas depois de muito refletir eu cheguei a uma conclusão.
Sabe, eu hoje quero muito realizar esse sonho, que me proporcionará muitas coisas, e hoje, me sentiria decepcionado se eu soubesse que não o alcançaria nunca. Mas talvez, o 'eu' de daqui 40 anos, olhando para trás, e vendo que não realizou esse sonho, não se sinta tão mal assim. Afinal, só o fato de correr atrás desse sonho já o fez sair da cidade que o prendia. Morar no lugar que ele mais se sentiu feliz do mundo. Conhecer gente das maiores maravilhosidades possíveis, o motivou a aprender alguns idiomas, o ensinou muita coisa, o deu uma certa experiência, o deu também certas condições financeiras para si e sua família, o levou para o outro lado do oceano, onde ele nunca imaginou que estaria, onde em gerações ele é um dos pioneiros da sua família a fazer.  Então, talvez um dia se eu olhar para trás e não puder dizer que realizei esse sonho, eu nem ligue e me orgulhe do caminho que eu construí enquanto o perseguia. Afinal estou escrevendo esse texto conectado num IP de um país em um continente no hemisfério norte (aposto ao que eu estava há um ano atrás), país esse localizado em um bloco econômico de primeiro mundo. É oq digo para todo mundo, é difícil, radical, requer esforço, vontade, preparação e saúde. Mas vale muito a pena.
Parafraseando uma das minhas cantoras preferidas :" Sempre haverá uma outra montanha, eu sempre vou querer movê-la. Sempre será uma batalha difícil, às vezes eu vou ter que perder. Não é sobre o quão rápido chegarei lá. Não é sobre o que está me esperando do outro lado. É a escalada"
Share:

Popular Posts